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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Faça-me o favor!

[Os fatos que se seguem ocorreram comigo em apenas dois dias].

Saí de casa pela manhã para ir trabalhar. Ruas vazias, caminho eu.

Passo por uma fileira de caixas de papelão que formam um singelo túnel.

Percebi: Há uma pessoa ali dentro! Ela passou a noite sobre sua cama de farrapos e papelão. Embaixo de uma árvore reclinou sua cabeça sobre uma pedra, enquanto eu reclamo do travesseiro de penas de ganso.

Passos adiante, uma esquina suja. Um senhor sujo, sentado na sarjeta. Seu olhar é desesperado e muito profundo. Perdido... Olha para o nada enquanto eu olho para os defeitos da minha casa de alvenaria.

Chego ao trabalho. Lidar com pessoas o dia inteiro realmente é algo fantástico.

Passa um tempo. “- Moça, eu quero um cartão de incentivo... Minha amiga está com câncer, pessoa tão boa! Tão nova, bonita...”. E eu reclamando porque meu nariz não me agrada.

Mais uns minutos, entram dois rapazes: calça apertadinha, cabelo para o lado. MUito gel , jeito de se portar estranho. Fresquíssimos. (Emos?)

“- Moça, um caderno de quinze matérias, por favor.”

Um para o outro: - "Ain, mas esse caderno tem uma mulher na capa, ECA!!" O amigo*, responde: - "Ahh, a gente cola uma foto encima dela! "[Expressão de repulsa]. Olha, esse aqui é bom (apontando para um caderno com um homem na capa). E eu às vezes chego a pensar que preciso muito de ajuda.

Logo depois, entra cambaleante. Os cabelos desalinhados, barba por fazer, exala fortíssimo cheiro de pinga: “- Princeeesaaa, você é muito bonita...”. Entre uma palavra e outra, sai do estabelecimento feliz da vida porque recebeu algumas frutas. E eu reclamando que o suco de caixinha deixou-me com queimação.

Vou para casa rapidamente, acesso a internet: ÍNDIA - Menina de 10 anos que teve o rosto mutilado por professar Jesus Cristo confessa que ama seus agressores. E eu, muitas vezes, ressentindo-me de pequenas questões. Achando que meus fardos são enormes. Crendo que sofro perseguição.

À tarde, de volta ao trabalho, a conheci: Maria. Vinda muito nova do interior do Maranhão, trabalhou como empregada doméstica. Cresceu no campo, vida difícil. Comia o que plantava, seu sapato para sair era havaiana – e não podia usar em casa - era somente para sair. E eu reclamando que preciso lavar uma louça. Que precisarei esperar a lasanha congelada ficar pronta ao invés de ligar para um Mc Donald’s da vida e pedir pronta-entrega.

À noite, faculdade. “- Acredita que uma aluna minha da quinta série me ofereceu R$ 150,00 para eu dar a ela um positivo?” – Contou-me minha melhor amiga. E eu crendo que malícia dessa forma uma criança de 10 anos não possuía.

Não tivemos a última aula, fomos lanchar. Depois disso alguém lembra: Ôpa, tem “frevo” no CA! Vamos dar uma passada lá para ver a quantas anda. Muitos jovens; muita cerveja, pessoas alegres, galera dançando, muita pegação. Bem legal. E eu reclamando que às vezes sinto-me vazia.

E eu reclamando. E você reclamando.

Clichê? Ahh, quando o assunto é esse, qualquer coisa que se diga te soará repetitivo, né? Que coisa chata essas pessoas que nos bombardeiam o tempo todo com a maldita da responsabilidade!

Um segredo: O mundo não gira em torno de nossos problemas, egoísmo ou indiferença. Quando não é conosco é fácil fechar os olhos.

Faça-me o favor.


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Saldo Negativo - Fernando Correia Pina

Dói muito mais arrancar um cabelo de um europeu
que amputar uma perna, a frio, de um africano.


Passa mais fome um francês com três refeições por dia
que um sudanês com um rato por semana.

É muito mais doente um alemão com gripe
que um indiano com lepra.
Sofre muito mais uma americana com caspa
que uma iraquiana sem leite para os filhos.

É mais perverso cancelar o cartão de crédito de um belga
que roubar o pão da boca de um tailandês.
É muito mais grave jogar um papel ao chão na Suíça
que queimar uma floresta inteira no Brasil.

É muito mais intolerável o xador de uma muçulmana
que o drama de mil desempregados em Espanha.
É mais obscena a falta de papel higiênico num lar sueco
que a de água potável em dez aldeias do Sudão.

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda
que a de insulina nas Honduras.
É mais revoltante um português sem celular
que um moçambicano sem livros para estudar.

É mais triste uma laranjeira seca num kibutz hebreu
que a demolição de um lar na Palestina.

Traumatiza mais a falta de uma Barbie de uma menina inglesa
que a visão do assassínio dos pais de um menino ugandês

e isto não são versos; isto são débitos
numa conta sem provisão do Ocidente.